domingo, 4 de dezembro de 2011

E se eu morresse, como seria?!


Só tenho vinte anos, não é idade de se morrer. Não, quero mais muitos anos. Vou fazer tanta falta para alguém. Vou deixar tanta coisa por fazer. Vinte é muito cedo: não posso morrer.

Um puxão no gatilho e já era. Um tropeção na bordinha. Atropelado na estrada, engasgado com osso de galinha, esfaqueado, acidentado, doente, traído... Tantas formas de morrer que me admiro ainda estar vivo.
Pensando bem, não sei meu prazo. Não me sinto pronto. Será que um dia me sentirei? Quem precisa estar pronto para morrer? Morrer é tão fácil - todos vamos morrer.
Aos dez na escola, aos vinte na faculdade, aos vinte e cinco no trabalho, aos vinte e sete casado, aos trinta com filhos, aos cinquenta e cinco aposentado, aos sessenta avô, aos oitenta descansando. Com noventa, lamentamos quem se for. Aos cem já é hora extra! Mais do que isso dá no jornal. Todas essas coisas da vida estão na história dos outros, não na minha. Não ainda. Todas as minhas aspirações, os sonhos, os planos, todos são cópias de vidas já vividas.
Não posso morrer.
E se eu morrer?
A morte será o fim de todas as coisas para mim: dos amigos e inimigos, dos doces e refrigerantes, dos videogames, dos amores, dos bichos e microbichos, das frustrações, das preocupações, das massas, das alegrias, dos sorvetes, das guerras e do handebol.
Ela vai me tirar tudo, vai mudar tudo para nada. Eu não posso, não quero morrer!
Sem a morte, resta a eternidade. Viver para sempre, poder sempre contar com o amanhã. E com o depois de amanhã. E com o depois de depois de amanhã. E saber que não importa quanto tempo passe, eu ainda mal comecei.
Com tempo ilimitado, posso fazer tudo. Posso conhecer todos os lugares, ler todos os livros, ver todos os filmes, jogar todos os jogos, praticar todos os esportes, pedir todos os sabores de pizza. Serei sábio, habilidoso, experiente.
Nenhum desafio me intimidará se não tiver a morte para encerrar minhas tentativas. As escolhas não serão importantes, eu vou ter tempo para viver todas as experiências.
Mas se as escolhas não são importantes, também não há satisfação em tomar a correta. Não há frustração em tomar a errada. Não haverão consequências que não possam ser revertidas. Em algum momento, nada será inédito, nada vai surpreender. Nada vai me desafiar, nada vai me entreter, nada vai me doer e nada vai me aliviar.
A vida dividida num tempo que corre infinito tende a zero. É simples como na matemática.
A eternidade é o único castigo do qual não poderíamos escapar. Só pensar nela já faz eu querer me matar.

Morte, conto com você.

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