sábado, 30 de abril de 2011

Medo


Quando as palavras lhe faltam, a melhor coisa a fazer é calar a boca.
Quanto mais você tem a dizer, menos palavras ocorrem. Quanto menos você fala, mais você pensa.
Quanto mais você pensa, mais coisas você tem a dizer. 
É um paradoxo perfeito para levar você contra você mesmo. Aquele tipo de sabotagem que fazemos a nós mesmos quando temos alguma oportunidade. O auto-flagelo. A força sedutora de se ajoelhar. Jogar nas mãos de Deus.
Bem, se você fizer isso, você está fodido. Se não fizer, também está. Estamos todos fodidos, de qualquer forma.
Não é o fim do mundo.
Temos medo de nos foder. De falar a coisa errada. De não falar nada. Temos medo de comprometimento, medo da solidão, medo de magoar e medo de ficarmos magoados.  Temos medo de pensar demais, de não pensar em nada, de perder. Medo de ganhar e não ser o que queríamos. Medo de descartar. De fazer a próxima jogada.
Você faz uma aposta e não paga pra ver. Blefa até todo mundo perder, e quando você se da conta, nem participou do jogo.
Chega uma hora que você acha que aprende com seus erros, mas não percebe que aprende apenas a não errar de novo. Acertar nunca. Blefar, blefar até todo mundo errar e você sair invicto.  Não errar de novo consiste no próprio erro. Um desses paradoxos perfeitos pra nos fazer ir contra nós mesmo. 
O medo de tentar. O medo de pensar errado fez com que nós parássemos de pensar. O medo de falar a coisa errada, nos tornou mudos. O medo de ver algo que não queremos, nos deixou cegos. O medo de fazer a coisa errada, deixou-nos estáticos.
Assim, medrosos, vazios, surdos, cegos e amputados.
E pensar que a gente se fode de uma forma ou de outra.
O medo de fazer algo se tornou parte de nós. Uma verdade que ninguém assume, mas que faz parte de todos.
Um dia vou fazer uma tatuagem. Um dia eu vou sair e pescar. Um dia eu vou beijá-la. Um dia eu vou pular de para-quedas. Um dia eu vou ser exatamente quem eu sou, sem precisar vestir este paletó. Um dia todos nós vamos morrer, e esse é o único dia que chega com a mais absoluta certeza. Você vive e sente que tem esse algo de errado.  Essa atmosfera de vontade reprimida. Aquelas palavras não ditas que devoram você de pouco em pouco. Os dias passam e você está com aquela sensação de que tinha que fazer algo mas não sabe o que é. Nem lembra mais. Aquilo perpetua. Vivemos o agora pensando no depois, sem fazer nada durante o agora e consequentemente não acontecendo nada no depois. Não fazemos nada, para evitar os acontecimentos ruins que fazer algo pode acarretar. Como se nada, fosse bom. Na falta de bom, a ausência de tudo é melhor que a presença de algo ruim. É assim que se desce.
Já que sempre pensamos na consequência, é sempre bom lembrar que no final, tudo que você faz, é tudo o que você fez. Tudo que você diz, é tudo que você disse.
Mas quando as palavras lhe faltam, o melhor é calar a boca.
E fazer alguma coisa antes que o jogo acabe.

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